Eu me questiono, quando digo que "as coisas não são fáceis", de que coisas eu estou falando afinal?
Será que nada é realmente fácil?! Ou sou eu que sempre anseio pelas mais difíceis?
Em regra, creio que me encontro em meio à segunda situação, eu realmente procuro as coisas mais difíceis, amizades complicadas, amores impossíveis, carreiras árduas, no fim acredito que é a isso que me refiro.
Engraçado, é como se toda a felicidade se resumisse em amigos fieis, amores reais e carreiras perfeitas... Mas vamos lá, quem não quer algo assim? Isso é firme, tangível e o que nós realmente procuramos nos dias atuais são coisas firmes, tangíveis, porque todos estamos cansados da vaga idéia de paraíso, nós queremos alcançar esse paraíso, queremos ter a certeza de como ele é, mas certeza é utopia... Não podem me culpar por desejar tanto coisas que, no fim, sabemos que são pequenas, porque não importa quão organizado esteja o mundo aqui fora, se o nosso mundo interior estiver uma bagunça, mas aquela bagunça mesmo, de termos roupas intimas penduradas na cozinha de nosso interior. No entanto convenhamos que arrumar a bagunça externa já é insuportável, imagina então organizar a bagunça que nos tornamos com o passar do tempo! Viver em stadby é mais cômodo do que ter que mexer e revirar, principalmente aquela dor que nós deixamos ali escondida atrás de um falso esquecimento, dai é que digo meus caros, ninguém quer revirar o íntimo porque na verdade muito tememos do que é que pode ter camuflado por ali. Mas as coisas doem, evoluir dói e nós seres humanos somos intoleráveis a dor, e posso dizer o quanto estou cansada de ouvir que "a dor nos faz crescer", o que eu quero ouvir é "você crescerá com a felicidade", não que a mesma não tenha esse efeito, mas por mais que eu não goste de admitir, não há como negar que a dor realmente é um degrau e tanto.
As coisas são difíceis porque nós temos a mania de acumular problemas, esconder as dores, camuflar decepções e então tornamos o nosso frasco sujo, e então a sujeira começa a refletir em tudo a nossa volta, e então fica difícil. Difícil seguir em frente, difícil se encarar, difícil virar a página... E em meio a toda essa cascata de dificuldade é que se torna mais difícil ainda limpar o frasco, porque a sujeira acumulou e limpar é um serviço pesado e dai pensamos que na verdade é assim que somos, quanto que a nossa essência é limpa e transparente, assim como nós queremos que todos sejam conosco. Mas se eu não consigo limpar minha própria sujeira, cobrar a limpeza do outro acaba sendo redundante.
A verdade é a imperfeição, incômoda e irreversivelmente real, a minha sujeira é imperfeição, assim como essa sua, que jamais será limpa porque é sua essência, hora limpa e transparente, mas ainda assim imperfeita. E tornar as coisas de certo modo mais toleráveis é um jeito mais suave que encontramos para lidar com todas as imperfeições externas e pessoais e cabe a nós, talvez aprender a olhar através de todo vidro embaçado e conseguir reconhecer algo que nos agrade tão maior, que a própria poeira grudada torna-se um efêmero detalhe.